segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Card é documento?


Se não fosse, esse não seria nosso tema, né? Como já fizemos antes, vamos pesquisar algumas definições para fundamentar nossa resposta.


O que é documento em primeiro lugar?

"Papel."
(Metonímia que enfatiza a importância do suporte para alguns)

"Declaração escrita que tem caráter comprovativo."
(DICIONÁRIO PRIBERAM, 2016;  DICIONÁRIO AURÉLIO ONLINE, 2016)

"A written or printed paper that bears the original, official, or legal form of something and can be used to furnish decisive evidence or information."

(Um papel escrito ou impresso que leva a forma original, oficial, ou jurídica de algo e pode ser usado para fornecer provas ou informações decisivas)
 (THE FREE DICTIONARY, 2016)

"A writing that contains information." (Um escrito que contém informação)
 (THE FREE DICTIONARY, 2016)

Percebemos aqui um foco no quesito escrito. Porém, essa é apenas uma forma de se registrar informações. E o que é um documento senão...

"Base de conhecimento fixada materialmente"
(DICIONÁRIO DE BIBLIOTECONOMIA E ARQUIVOLOGIA, 2008)

"Informação registrada"
(DICIONÁRIO DE BIBLIOTECONOMIA E ARQUIVOLOGIA, 2008)

"Unidade de registro de informações, qualquer que seja o suporte ou formato"
(DICIONÁRIO BRASILEIRO DE TERMINOLOGIA ARQUIVÍSTICA, 2005)

E Arquivologia é a ciência dos arquivos, a disciplina que estuda os arquivos e os princípios e técnicas a serem observados em sua constituição, desenvolvimento, organização e utilização (CUNHA e CAVALCANTI, 2008). Aqui, "arquivo", entende-se como:

"Conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma entidade coletiva, pública ou privada, pessoa ou família, no desempenho de suas atividades, independentemente da natureza do suporte". 
(DICIONÁRIO BRASILEIRO DE TERMINOLOGIA ARQUIVÍSTICA, 2005)

"Conjunto de documentos produzidos e recebidos por uma pessoa física ou jurídica, pública ou privada, caracterizado pela natureza orgânica de sua acumulação e conservado por essas pessoas ou por seus sucessores, para fins de prova ou informação."
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9578)

"Conjuntos de documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos, instituições de caráter público e entidades privadas, em decorrência do exercício de atividades específicas, bem como por pessoa física, qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos"
(BRASIL. Lei 8.159, 1991, art. 2)

É, deu para perceber que arquivos são conjuntos de documentos produzidos e também recebidos por uma entidade em razão do exercício de suas atividades (seja lá qual for o suporte). É um conceito enraizado em nossa área.

E por essas definições, um card seria considerado como documento. Afinal, é um conjunto de informações iconográficas e textuais registradas num suporte, geralmente num papel de alta gramatura (350 g/m2) nas dimensões 63 x 88 mm.

Independentemente do cardgame, cards geralmente são adquiridos em boosters, em trocas ou dados como premiação por participação em eventos. São documentos recebidos em razão da atividade do jogador de participar de uma competição oficial ou casual, usados nessas competições e guardados pelo jogador para uso futuro, e também como testemunho daquele conjunto de expansões e seu uso no "competitivo" ou no "for fun".

Mas não são todos os cards que são arquivos, isso é, documentos arquivísticos. Apenas um seleto grupo é usado pelo jogador em competições oficiais ou casuais, o restante se enquadra como coleção.

O que consideramos como documentos arquivísticos são os cards que fazem parte do deck usado pelo jogador, além da sideboard (cards à parte do deck, usados para modificá-lo de forma a aumentar sua eficiência contra determinado oponente).

É estranho considerar card como arquivo? Arquivo é somente o público, o governamental, o administrativo, o jurídico?

Somente organizações com denominação e existência jurídica própria, com atribuições definidas por lei, com autonomia administrativa e financeira podem ser consideradas como produtores de arquivo, como criadores de fundo? Pessoas e demais entidades só colecionam documentos então, para aqueles que foram citados por Souza (2007)?

Vamos quebrar preconceitos. Vamos deixar para trás os selos, carimbos e assinaturas e nos focar na organicidade, no vínculo que torna o documento arquivístico. Seguiremos a abordagem de Camargo (1998), e aqui, os cards dos diversos cardgames serão nossas Heloisianas.



REFERÊNCIAS:

Arquivo. In: ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005. 232 p. (Publicações Técnicas, 51)

Arquivologia. In: CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordélia R. Dicionário de biblioteconomia e arquivologia. Brasília: Briquet De Lemos, 2008. xvi, 451 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9578: arquivos: terminologia. Rio de Janeiro, 1986. 4 p.

BRASIL. Lei n. 8 .159, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de arqui-vos públicos e privados e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8159.htm>. Acesso em: 09 out 2016.

CAMARGO, Ana Maria de Almeida. Contribuição para uma abordagem diplomática dos arquivos pessoais. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 11, n. 21, p. 169-174, jul. 1998. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2065>. Acesso em: 09 out 2016.

Document. In: FARLEX. The Free Dictionary. Disponível em:<http://www.thefreedictionary.com/document>. Acesso em: 05 out 2016.

Documento. In: ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005. 232 p. (Publicações Técnicas, 51)

Documento. In: CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordélia R. Dicionário de biblioteconomia e arquivologia. Brasília: Briquet De Lemos, 2008. xvi, 451 p.

Documento. In: DICIONÁRIO AURÉLIO ONLINE. Disponível em:<https://dicionariodoaurelio.com/documento>. Acesso em: 05 out 2016.

Documento. In: DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em:<https://www.priberam.pt/dlpo/documento>. Acesso em: 05 out 2016.

LOPEZ, André Porto Ancona. Identificação de tipologias documentais em acervos dos trabalhadores. In: MARQUES, José Antonio;  STAMPA, Inez Terezinha. Arquivos do mundo dos trabalhadores. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional; São Paulo: Central Única dos Trabalhadores, 2012. p 15-32. Disponível em:<http://www.portalmemoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/media/Arquivos%20do%20Mundo%20dos%20Trabalhadores%20Colet%C3%A2nea%20do%202%20Semin%C3%A1rio.pdf>. Acesso em: 10 out 2016.

SOUSA, Renato Tarciso Barbosa de. A classificação como função matricial do que-fazer arquivístico. In: SANTOS, Vanderlei Batista dos; SOUSA, Renato Tarciso Barbosa de (org). Arquivística: temas contemporâneos. Distrito Federal: SENAC, 2007, p. 125-171.


ILUSTRAÇÕES:

Weakness Policy (Card da expansão Primal Clash do Pokémon Trading Card Game)


PARA CITAR ESSA POSTAGEM:

SOUZA, Natasha Alves Bêto de. Card é documento? Brasília, 10 out 2016. Disponível em: <http://diplomagic-unb.blogspot.com.br/2016/10/card-e-documento.html>. Acesso em 10 out 2016.

4 comentários:

  1. Ótima abordagem! Esse será um tema bem temático e ilustrativo de uma maneira bem contextualizada! Ansiosa pelas próximas associações.
    Parabéns, galera!

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  2. Ótima abordagem! Esse será um tema bem temático e ilustrativo de uma maneira bem contextualizada! Ansiosa pelas próximas associações.
    Parabéns, galera!

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  3. Um post bem intrigante para se iniciar as discussões.
    Se me permitem indagá-los com uma dúvida: tendo em vista as definições e situações apresentadas, qual seria, então, o momento "exato" em que um card passa a ser um documento de arquivo?
    Apenas na suas incorporação em um deck/sidedeck (pois aqui que teriam uma função estabelecida, de fato, para o usuário/jogador no âmbito de sua "missão institucional")? Ou seria anteriormente, com a abertura de um booster pack ou ao ser recebido avulsamente (pois, em analogia com os documentos oficiais, seria aqui que adentram o universo administrativo da entidade como docs recebidos, para um possível uso futuro)?

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    1. Olá Fábio, ótima pergunta!

      Considero que os cards só são documentos arquivísticos quando incorporados ao deck ou a sideboard. Quando adquiridos de um booster, por troca ou por compra, os cards são imparciais, autênticos e naturais/orgânicos, mas lhes faltam inter-relacionamento e unicidade (até porque há inúmeras cópias produzidas de um mesmo card). O card só será único (em seu contexto) e se relacionará com outros cards dentro de um deck, somente dentro de um deck ele poderá exercer sua função. Fora do deck, ele perde seu contexto e se torna apenas um item de coleção.

      Mas como você destacou, mesmo os cards que não são incorporados num deck ficam guardados, pois podem ser trocados, vendidos ou usados para criar outro deck, quando o jogador tiver outros cards que compartilhem da mesma função ou que deem suporte a função principal do deck. O inter-relacionamento é uma característica bem destacada nesses documentos, os melhores decks não são aqueles que têm os cards mais "fortes", e sim aqueles que tem mais sinergia entre seus cards.

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