domingo, 20 de novembro de 2016

As cópias autorizadas no TCG


Como todo documento, os cards apresentam diversos estágios de transmissão, indo do rascunho até o original, e do original até a cópia.

Porém, como um documento que passa por um circuito comercial, é de se esperar que as cópias sejam malvistas, certo? Apenas em determinados casos elas são aceitas formalmente, sendo equivalentes as cópias autorizadas da tradição documental. São os denominados proxy cards. Na língua inglesa, "proxy" é

"the written authorization to act in place of another" (A autorização escrita para agir em substituição de outrem)
 (THE FREE DICTIONARY, 2016)

A melhor tradução de "proxy" seria "procuração". O uso dessa terminologia, também usada em documentos oficiais, ressalta como um proxy card é diferente de uma cópia falsificada. Em português, o termo ficou conhecido como "protése". No dicionário, prótese é um

"Dispositivo ou aparelho que tem por fim substituir um órgão [...] ou melhorar uma função"
(DICIONÁRIO PRIBERAM, 2016)

O que efetivamente ocorre no cardgame. Em relação à literatura arquivística, como as próteses seriam definidas?

"cópias autorizadas, que surtem os mesmos efeitos do original, apresentam-se em duas modalidades: traslado [...] e cópia certificada, [a qual] é garantida por uma autoridade civil [...][,] não pelo notário."
(BELLOTTO, 2002)

As próteses são cópias certificadas dos cards. São usadas para testar como determinados cards funcionam no deck, com o consentimento de ambos jogadores; ou para substituir um card danificado durante uma competição, sendo fornecida pelo juiz (LICAR, 2016).

O motivo do uso de próteses para "testar" como um card funciona geralmente se concentra no custo do card: cards mais efetivos costumam ser mais caros, além de serem mais raros. São difíceis de obter, tanto nos boosters quanto nas trocas com outros jogadores.


Poxa, ninguém tem RC não? Nem Shaymin? Pago 20 conto nesse Elixir, você tem um para passar?

Porém, só porque um card é bom, não significa que ele será bom no deck. O uso de próteses permite testar a sinergia da cópia com os demais cards, e possibilita ao jogador avaliar o custo-benefício de determinada aquisição.

Na maioria das competições oficiais (até mesmo aquelas que não geram pontuação para os jogadores, como a Liga Pokémon), o uso de próteses é vetado. Apenas se um card for danificado durante a competição é que ele será substituído por uma prótese fornecida pelos juízes do respectivo torneio (HAENIG, 2011; LICAR, 2016).

Normalmente esse tipo de ocorrência é raro, mas pode acontecer. A título de exemplo, no Desafio do Empeleon BREAK, promovido pela Inside Games em novembro; houve um pequeno acidente com uma garrafa de Coca-Cola. Poderia ter derramado nos cards, mas felizmente só sujou o chão.

Em alguns tipos de torneio, como pós-releases (NUNES, 2012) e formatos expandidos (FLAMHOLZ, 2004), os organizadores podem permitir um determinado número de próteses devido à dificuldade de aquisição dos cards.

Um uso pouco conhecido das próteses é na criação dos cards. Os produtores podem usar próteses para testar a viabilidade de um card dentro da expansão que estão planejando (FORSYTHE, 2004). Nesse caso, a prótese não é cópia, e sim um pré-original.

Além de se enquadrar em uma das situações expostas anteriormente, as próteses precisam atender a determinados requisitos para serem usadas. A ideia de uma prótese é que ela seja facilmente identificada, mas ao mesmo tempo aja como um card original.

Para isso, ela dever ter o mesmo tamanho, peso, espessura e formato do card original, e ter a parte de trás igual ao do original. Se os jogadores usam sleeves/protectors foscos, não é necessário que o verso seja idêntico ao original, uma vez que ele estará ocultado pelo sleeve.

Alguns exemplos de próteses

Elaborada no próprio card

Impressa, usada em cima de outro card

Adesivada

Minimalista
(GOOGLE IMAGES, 2016)


Todas essas exigências visam garantir que os cards do deck sejam indistinguíveis entre si enquanto permanecerem no deck, para evitar trapaças. O jogador não pode ter cartas marcadas para saber de antemão onde está aquele card. TCGs são jogos de sorte e estratégia, portanto as chances de se obter determinado card durante a partida devem ser preservadas.

Finalizamos nossa postagem com um desafio para os leitores. Nos exemplos das próteses citadas, há algum pré-original, ao invés de cópias certificadas? Deixem sua resposta nos comentários ; )



REFERÊNCIAS:

BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Como fazer análise diplomática e análise tipológica de documento de arquivo. São Paulo: Arquivo do Estado: Imprensa Oficial, 2002. 120 p. (Projeto Como fazer, 8)

FLAMHOLZ, Avi. Money, proxies, and the must-have list: a case for Vintage. [United States of America], 13 Set 2004. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ZA0nLmimWYcJ:www.starcitygames.com/php/news/print.php%3FArticle%3D7614+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 20 nov 2016.

FORSYTHE, Aaron. A-proxy-mation. [United States of America], 14 Dec 2011. Disponível em: <http://magic.wizards.com/en/articles/archive/latest-developments/proxy-mation-2004-03-19/>. Acesso em: 20 nov 2016.

HAENIG, Greg. New counterfeit and proxy policy. [United States of America], 19 Mar 2014. Disponível em: <http://www.gatheringmagic.com/new-counterfeit-and-proxy-policy/>. Acesso em: 20 nov 2016.

LICAR, Paulo Ricardo. [Uso de próteses]. [Novembro de 2016]. Brasília: [s.n]. Entrevista concedida pela Inside Games para obtenção de informações para a elaboração de trabalho acadêmico.

NUNES, Daniel. Liga Pokémon (9/9), Torneio BW-DRX (15/9) e Pós-Release DRX (23/9). [Brasília], 7 set 2012. Disponível em: <https://pokemontcgbrasilia.wordpress.com/2012/09/07/liga-pokemon-99-torneio-bw-drx-159-e-pos-release-drx-239/>. Acesso em: 20 nov 2016.

Proxy. In: FARLEX. The Free Dictionary. Disponível em:<http://www.thefreedictionary.com/proxy>. Acesso em: 20 nov 2016.

Protése. In: DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em:<https://www.priberam.pt/dlpo/protése>. Acesso em: 20 nov 2016.


ILUSTRAÇÕES:

Gosma Mimética (Card da expansão Gatecrash do Magic The Gathering)


PARA CITAR ESSA POSTAGEM:

SOUZA, Natasha Alves Bêto de. As cópias autorizadas no TCG. Brasília, 20 nov 2016. Disponível em: <http://diplomagic-unb.blogspot.com.br/2016/11/as-copias-autorizadas-no-tcg.html>. Acesso em 20 nov 2016.

3 comentários:

  1. Será que alguém irá acertar? Deixaremos um intervalo de duas semanas ou três comentários para revelarmos a resposta.

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  2. Esse blog é sensacional :). Vocês estão fazendo um excelente trabalho.
    Sobre a pergunta, eu diria que é a prótese adesivada, porque os outros exemplos parecem muito com os que a gente faz em casa. Aliás, a versão minimalista rlz.

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    1. Como o blog irá fechar por conta da prova, responderemos hoje ao desafio. Parabéns, Greice, você acertou metade. Os dois últimos são pré-originais.

      Como você percebeu, o adesivo é bem mais profissional, trazendo códigos internos, usados enquanto o nome da expansão não é definido. Porém, se compararmos o texto da versão impressa com a minimalista, veremos que há algumas diferenças (mesmo desconsiderando as abreviaturas). A prótese tem que conteúdo igual ao da original. Se o conteúdo é distinto, podemos supor que ela então é um pré-original.

      Mas sinceramente eu achei que todo mundo iria acertar a última mas não considerar a penúltima. Não coloquei a fonte das imagens porque elas dariam a resposta: os pré-originais são imagens postadas por FORSYTHE (2011)

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